O costume de andar de
cabeça baixa nos adestra a viver sem surpresas. É por estarmos com os olhos
fitos na calçada que não nos damos o trabalho nem de olhar nos olhos de quem
trombamos ao viramos distraídos à esquina. E lá se foi mais uma das vírgulas
que talvez fossem interromper o apressado e desatento parágrafo de nossa existência.
Foi-se!
Árvores, crianças, um
belo cachorro recebendo o carinho do dono, um carro que desde criança apreciamos,
o susto de um descuidado senhor ao ouvir
o som de freio de uma carro que quase o atropela, tudo, o mundo passando logo
ali, logo aqui. E tendemos a nos transformarmos em mero observadores, deixando
o protagonismo de viver, para as pessoas “menos ocupadas” consigo mesmas.
O mais curioso é que
apenas substituímos os mundos. Deixamos o mundo real e vivemos o nosso. Dúvidas,
riscos, possibilidades, vontades, são vividas sim, mas ali enquanto caminhamos
cabisbaixos e concentrado na tela do celular, que nos alerta do mais novo papo interessantíssimo
em um dos milhares de grupos virtuais que participamos. Sim, quem disse que a
solidão não pode ser compensada? Mero devaneio!
Os passos vão nos
alimentando, enquanto a falta de
percepção nos engole a cada movimento que fazemos em direção e esse mundo solitário
que decidimos viver. Apenas nós e nossos
sonhos, amassados num papel dobrado num fundo de uma calça jeans que usamos aos
fim de semana. Sonhos frágeis!
Mas assim como o
semáforo no próximo cruzamento tem o poder de mudar o fluxo dos carros que
forma quase que mágica, a vida também tem suas metamorfoses reservadas até para
os distraídos como nós. E quando o vermelho do sinal de trânsito permite a
passagem das pessoas de uma rua a outra, ele também força-nos a olha para
frente e usar do cuidado uma forma de evitar possíveis acidentes. E ao elevar os
olhos, pela primeira vez no dia, vemos um olhar em nossa direção, tão outrora distraída
quanto nós, mas que também aproveita para ajudar o destino, fixando por alguns
segundos seus olhos em nós. São segundos
rápidos mais decisivos. Olhar que penetrar na alma, e nos faz olhar não só para
frente mais para trás e acompanha-lo por toda faixa de pedestre. Primeiro de
muitos milagres.
Mas passou, o Sinal
abriu, o tumulto vota a reinar nas calçadas. Os andantes, apressados e distraídos
pedestres, assim como nós, logo povoam os passeios da rua. E mesmo assustados
com tal aparição, voltamos a olhar para baixo, agora não mais com distração, mais
como forma de tentar tatuar aqueles segundo mágicos na mente. Tarefa fácil!
Nos apressemos então,
pois o próximo semáforo está a três quadras daqui, não podemos perder mais essa
nova oportunidade. Nova esperança!
O mundo não é o
bastante
Força Sempre
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